terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

A IDENTIFICAÇÃO DATILOSCÓPICA


José Félix Alves Pacheco, jornalista, político, poeta e tradutor,

nascido em Teresina, estado do Piauí, em 2 de agosto de

1879, foi nomeado para dirigir o Gabinete de Identificação e

de Estatística em 1903 pelo Chefe de Polícia, Antônio Augusto

Cardoso de Castro, tornando-se o seu primeiro diretor.

         Félix Pacheco

No exercício da sua direção, introduziu na Polícia do

Distrito Federal o serviço antropométrico, segundo Bertillon

e, depois, o sistema datiloscópico de Vucetich.

O Decreto nº 4.764, de 5 de fevereiro de 1903, que baixou

o regulamento da Secretaria da Polícia do Distrito Federal

(órgão administrativo subordinado ao Chefe de Polícia), definiu

as atribuições do Gabinete de Identificação e introduziu a

identificação datiloscópica no Rio de Janeiro:

“Art. 52. O Gabinete de Identificação e de Estatística será uma

secção de caráter, ao mesmo tempo, judiciário e policial, destinada

a representar no mecanismo de repressão da Capital da

República o papel de traço de união entre as Delegacias e as

Promotorias, registrando com absoluta segurança o movimento

criminal das primeiras, não só para os fins de estatística inerentes

à sua função de cadastro, como para poder orientar as

segundas, fornecendo-lhes informações seguras acerca dos reincidentes

e dos recalcitrantes habituados a infringir a lei penal.

Art. 57. A identificação dos delinquentes será feita pela combinação

de todos os processos atualmente em uso nos países mais

adiantados, constando do seguinte, conforme o modelo do livro

de Registro Geral anexo a este regulamento:

a) exame descritivo (retrato falado);

b) notas cromáticas;

c) observações antropométricas;

d) sinais particulares, cicatrizes e tatuagens;

e) impressões digitais;

f) fotografia da frente e de perfil.

Parágrafo único. Esses dados serão na sua totalidade subordinados

à classificação datiloscópica, de acordo com o método

instituído por D. Juan Vucetich, considerando-se, para todos

os efeitos, a impressão digital como a prova mais concludente

e positiva da identidade do indivíduo e dando-se-lhe a

primazia no conjunto das outras observações, que servirão

para corroborá-la.”

            Juan Vucetich

O processo datiloscópico de Vucetich prezava pela simplicidade

dos seus meios e certeza dos seus resultados como

a experiência demonstrou nos países onde foi adotado.

Também oferecia maiores vantagens econômicas e técnicas.

Iniciava-se a tendência do abandono do método de

Bertillon ou Bertillonage e, consequente, adoção do sistema

datiloscópico. Além da falibilidade do primeiro, constatada

na prática diária, o método antropométrico exigia uma

custosa e complexa instalação, com aprendizagem difícil,

enquanto a datiloscopia não requeria o mesmo pessoal nem

equivalente estrutura.

Dispensando uma aparelhagem imprescindível às mensurações

antropométricas, a datiloscopia resumia-se na tomada

de impressões digitais e classificação das fichas com a

mínima despesa e máxima celeridade.

Com vantagem, aplicava-se de forma genérica aos indivíduos

de qualquer idade dada a persistência e invariabilidade

dos desenhos papilares em todos os períodos da vida humana.

Juan Vucetich esteve no Rio em 1905 para participar do 3º

Congresso Científico Latino-Americano, quando apresentou

um trabalho intitulado “Evolução da Datiloscopia”. Na ocasião,

presenteou o Gabinete de Identificação com um exemplar da

mesa padrão para coleta de impressões digitais segundo a sua

concepção. Essa peça se encontra no Museu da Polícia Civil.

          Mesa para coleta de impressões digitais de Vucetich

Vucetich, um imigrante croata, ingressou na Polícia Provincial

de Buenos Aires em 1884, onde permaneceu até 1912, quando

se afastou como Chefe do Gabinete de Identificação.

Em dezembro de 1908, o Chefe de Polícia do Distrito

Federal, Alfredo Pinto Vieira de Mello, expediu circular aos

chefes de polícia dos outros estados da federação concitando-

os à unificação do sistema de identificação pelo processo

datiloscópico e propondo um convênio interestadual de

polícia tendente a fortalecer a ação preventiva e repressiva

das autoridades policiais em todo o território da República.

Lembrou que só assim seria possível firmar o conceito de

reincidência “pelo qual se orienta a defesa social na repressão

judiciária da criminalidade”.


        Antiga sede do Gabinete de Identificação - início do século XX.

       O prédio foi casa do Marques do Lavradio.

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