quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

A CHEFATURA DE POLÍCIA NA REVOLUÇÃO DE 30

O dr. Coriolano de Araújo Góis Filho chefiou a Polícia

do Distrito Federal de novembro de 1926 a setembro

de 1930, quando foi nomeado Ministro do então Supremo

Tribunal Militar. No dia 26 de setembro de 1930, transmitiu

o cargo ao delegado de polícia dr. Pedro de Oliveira Ribeiro

Sobrinho em posse festiva com vários discursos homenageando

tanto o chefe afastado como o novo titular.

Em três de outubro de 1930, irrompeu no Rio Grande do

Sul o movimento revolucionário promovido pelos próceres da

Aliança Liberal com o apoio de Minas Gerais e Paraíba, assinalando

o momento de ruptura com o velho regime. Enquanto as

adesões se estendiam por todo o país, as tropas do Exército, sob

o comando do tenente-coronel Góis Monteiro, marchavam em

direção à São Paulo conseguindo angariar o apoio dos Estados

do Rio de Janeiro e Mato Grosso. Continuavam fiéis ao governo

federal São Paulo e Distrito Federal. Diante da iminência

do embate das tropas revolucionárias com as forças governistas

dispostas em Itararé, no dia 24 de outubro, os generais, Tasso

Fragoso, Chefe do Estado-Maior do Exército, e Mena Barreto,

Comandante da 1ª Região Militar, antecipando-se ao confronto

depuseram o Presidente Washington Luiz, formando uma

junta militar provisória, integrada também pelo Almirante José

Isaías de Noronha, ex-Comandante em Chefe da Esquadra e

representante da Armada. Tornou-se vitoriosa a Revolução de

30 com Getúlio Vargas à frente do Governo Provisório.

       Revolução de 30, Vargas no poder.

Vitorioso o golpe do Exército, multiplicaram-se as manifestações

populares espalhadas pelas ruas do Rio e acabou

por surgir um grupo que se dirigiu ao Palácio da Polícia, onde

pretendiam libertar os presos que porventura ali estivessem.

Estavam de serviço e permaneceram, com coragem, para enfrentar

a fúria popular, o delegado da 4ª Delegacia Auxiliar,

dr. Paula e Silva, o suplente de delegado Moreira Machado e o

policial Martins Vidal. Respeitável e destemida atitude desses

três policiais por não abandonar o posto de trabalho malgrado

a aproximação de desconhecidas ameaças. Enquanto os

três eram recolhidos ao xadrez, foram libertados quatro presos

dentre os quais o tenente João Cabanas da Força Pública

de São Paulo, participante da revolução paulista de 1924, chefiada

pelo general Isidoro Dias Lopes, preso dias antes na Rua

do Resende, denunciado por sua ex-mulher, atriz de teatro

italiana Olga Navarro (Olça Marduzzo Cabanas) por questões

relacionadas com a partilha de bens.

O Palácio da Rua da Relação, construído para sede central

dos serviços administrativos da Polícia Civil do Distrito

Federal e gabinete do Chefe de Polícia, nunca foi uma masmorra.

        A Revolução chegou ao Palácio da Relação.

O Presidente Washington Luiz, chefe de um governo

constitucional, em nada se assemelhava com os famigerados

ditadores da época. O prédio alojava, em grande parte,

serviços administrativos de pessoal, material, contabilidade,

tesouraria, gráfica, oficinas de manutenção de veículos, garagens

etc. Além destes, havia as quatro delegacias auxiliares,

cada qual especializada na investigação de determinadas modalidades

de infrações penais e mais os gabinetes periciais.

A turba, conduzida por hábeis insufladores, deparou-

-se com o delegado Luiz de Paula e Silva, que deixou a titularidade

do 30º Distrito Policial para assumir a chefia da 4ª

Delegacia Auxiliar. Moreira Machado estava nela lotado já há

alguns anos e Martins Vidal se especializou em investigar os

crimes contra o patrimônio. Os presos encontrados, em pequeno

número, eram de detenção recente, como no caso de

Cabanas. Por ironia, a ação dos manifestantes antes de derrubar

uma “Bastilha” prenunciava a vindoura falta da liberdade.

Seguiu-se uma corrida ao cargo de Chefe de Polícia, a

princípio, ocupado pelo capitão Carlos Chevalier. Em 25 de

outubro de 1930 assumiu o coronel José Sotero de Meneses, em

26 o coronel Bertoldo Klinger e em caráter efetivo João Batista

Luzardo, de 4 novembro daquele ano até março de 1932.

Parlamentar com fama de tribuno e guerreiro, Batista

Luzardo recebeu o cargo do coronel Klinger. Em discurso,

declarou-se “soldado mobilizado da revolução nacional, ainda

a frente de suas tropas, mal chegado à capital da República recebera

do comando supremo das forças libertadoras, ordem de

ocupar o setor da administração pública”. “Dava à revolução

que pregou e defendeu a continuidade do seu esforço e dedicação”.

E, continuando, disse, “respeitarei todos os direitos e

assegurarei todas as liberdades. Velarei pela ordem com carinho

que me merece a população desta nobre cidade”.

         Delegado Salgado Filho foi a primeira autoridade nomeada.

Um dos primeiros atos do novo Chefe de Polícia foi a nomeação,

por meio de portaria, do dr. Joaquim Pedro Salgado

Filho para titular da 4ª Delegacia Auxiliar. Salgado Filho era

advogado e militou em defesa dos presos políticos durante o

governo deposto. Após a saída de Luzardo, exerceu interinamente

a Chefia.

O Governo Provisório se institucionalizou com o decreto

de 11 de novembro de 1930. Foram dissolvidos o Congresso

Nacional, Assembleias Estaduais e Câmaras Municipais, e

assumiu Vargas poderes discricionários para governar.

O dispositivo citado previa a eleição de uma Assembleia

Constituinte, que substituiria a Constituição de 1891.

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