sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

ÚLTIMOS MOMENTOS DA POLÍCIA DA CORTE


Às quinze horas do dia 15 de novembro de 1889, já proclamada

a República no Brasil, chegou ao prédio da

Chefatura de Polícia do Império na Rua dos Inválidos nº 78 a

80, o capitão do Exército Antônio Vicente do Espírito Santo

e recebido pelo conselheiro José Basson de Miranda Osório,

Chefe de Polícia da Corte, declarou-lhe:

“Em nome e de parte do Governo Provisório venho render a

Vossa Senhoria no lugar de Chefe de Polícia e declarar-lhe que

ele, Governo, é de paz e fraternidade, e conta com o concurso

de todos os bons cidadãos para a manutenção da ordem e

tranquilidade pública.”

Em resposta, declarou o Conselheiro: “os que me investiram

neste cargo já me mandaram dizer que não tinham

mais ordens a dar-me. Esperava aqui que me viessem render.

Portanto, retiro-me.”

         Proclamação da República - 15 de Novembro de 1889

Em seguida, despedindo-se dos servidores ali presentes

como delegados e médicos, o comandante da Guarda Cívica,

capitão Lírio (sucessora da Guarda Urbana), dirigiu-se para a

saída do prédio, acompanhado de Espírito Santo, Delegados

Auxiliares e outros servidores.

Após a saída do ex-Chefe de Polícia, os Delegados

Auxiliares pediram exoneração sendo parcialmente substituídos

por militares da confiança do novo Chefe. Foram nomeados,

em caráter interino, o major Cândido José de Siqueira

Campelo para 1º Delegado Auxiliar e o capitão Austreclino

Vilarim para a 3ª Delegacia Auxiliar.

Mais tarde chegou a notícia de invasão na Casa de

Detenção e coube a Espírito Santo as primeiras providências,

para lá enviando vinte praças comandadas por um alferes.

A ronda da cidade passou a ser feita por unidades do

Exército, sendo expedidas ordens para que “fosse executado

esse serviço com a maior calma e correção”. Praças do 7º

Batalhão de Infantaria foram mandadas para reforçar os efetivos

dos postos policiais (estações de polícia).1

No dia seguinte, 16 de novembro, assumiu o cargo de

primeiro Chefe de Polícia do governo republicano o bacharel

João Batista de Sampaio Ferraz, um prócer da propaganda

republicana.

Quanto ao último Chefe de Polícia da Corte, conselheiro

Miranda Osório, nasceu na cidade de Parnaíba, na então província

do Piauí, em 17 de novembro de 1836. Bacharelou-se

em Direito pela Faculdade de Direito de São Paulo, ingressou

na magistratura, a qual abandonou para dedicar-se à política.

Foi Deputado Provincial, Deputado Geral e Presidente

da Província da Paraíba. Dedicado ao governo monárquico,

nele reconhecia-se competência administrativa e vasta cultura,

motivos que contribuíram para a sua escolha para o espinhoso

cargo de Chefe de Polícia por ocasião da ascensão do

Visconde de Ouro Preto (Afonso Celso de Assis Figueiredo) à

Presidência do último gabinete ministerial do Império.

Em carta enviada a Ouro Preto, um mês depois da

Proclamação, reproduziu com riqueza de detalhes os acontecimentos

que precederam aquele dia e seu desempenho

no cargo que lhe foi confiado.2 Nesse relatório, demonstrou

o cuidado de colocar o governo a par do movimento militar

em andamento, desdobrando-se para manter entendimentos

com os chefes militares, o Ajudante Geral do Exército e Chefe

do Estado-Maior, Marechal Floriano Peixoto, o Ministro da

Guerra, Conselheiro Cândido de Oliveira e da Marinha,

Barão de Ladário. Dito trabalho, que se estendeu ao acompanhamento

da agitação republicana com alguma repercussão

nas ruas e movimentação no Clube Militar, contou com a colaboração

do 1º Delegado Auxiliar, dr. Bernardino Ferreira e

do 3º Delegado Auxiliar, dr. Brasil Silvado.

Apesar das tentativas do Marechal Floriano de desmentir

rumores e tentar acalmar o governo, tornou-se nítida a preparação

de um golpe militar diante dos levantamentos feitos

pela polícia e informados ao presidente do Conselho.

Basson mencionou as causas remotas que acabaram por

deflagrar o golpe como o descontentamento da classe militar,

que segundo Benjamin Constant vinha sendo vítima de injustiças

e injúrias da monarquia. Lembrou a célebre questão

militar, os fatos que envolveram a morte do jornalista Apulcro

de Castro, a insubordinação na Escola Militar da Praia

Vermelha. (A carta evitou comentar a influência da intensa

campanha republicana no movimento militar, de longa data

promovida por ilustres brasileiros, fortemente inspirada no

credo positivista em voga, base doutrinária do novo regime

e da Revolução.)

              Marechal Floriano Peixoto

Basson, ainda fiel à monarquia, concluiu a sua carta relatório

parecendo lamentar o alvorecer do novo regime, apontando

a inércia do governo monárquico diante da necessidade de se

defender, embora devidamente avisado pela Polícia da Corte:

1) que o governo, diante das informações chegadas ao

seu conhecimento, não tomou as providências enérgicas

e oportunas que devia, confiando nas negativas e

protestos de fidelidade do Chefe do Estado-Maior ou

Ajudante General do Exército;

2) que o Chefe de Polícia foi a única autoridade vigilante,

embora não ouvida pelo governo e com a autoridade

sabotada por elementos subordinados;

3) que a vitória do movimento se deveu à inação por parte

do Ajudante General, Marechal Floriano Peixoto.

Por ressentimento político, o missivista foi injusto quanto

às referências feitas ao Marechal Floriano, que não ficou

inerte diante dos acontecimentos. Estava afinado com o golpe

militar republicano. Era um verdadeiro patriota, honesto nos

seus propósitos e impecável na sua conduta. Dentre os artífices

da Proclamação, talvez, tenha sido o mais determinado e

eficiente para alcançar o vitorioso desfecho.

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